A fase final de nosso UM MÊS AO GUIDÃO com a Yamaha XT 1200Z
Super Ténéré ficou a cargo de Alberto Trivellato, nosso tradicional colaborador
nestas avaliações e que, como já mencionamos anteriormente, é dono de uma BMW R
1200 GS Adventure, a rivalíssima desta maxitrail da Yamaha. Aliás, Alberto teve
várias GS, mais exatamente quatro (três 1100 e uma 1150), de gerações
anteriores à de sua moto atual, e portanto é não apenas conhecedor do modelo
mas também testemunha da evolução da moto alemã, verdadeiro ícone do segmento.
O ideal teria sido que Alberto pudesse rodar ao menos uns
600 km no lombo da Yamaha, realizando seu percurso padrão de fins de semana de
lazer, de São Paulo a Parati no estado do Rio de Janeiro, e respectiva volta.
Tal roteiro mistura boas rodovias, serra e até trechos off-road. Infelizmente
esta programação não foi possível, mas os quase 300 km rodados pelo colaborador
com a Super Ténéré, dos quais dois terços por estradas, lhe deram a
possibilidade de nos oferecer o seguinte relato:
“Antes de rodar com a Yamaha Super Ténéré gastei um bom
tempo observando-a, já que não é uma moto muito comum de ser ver por aí. Ela é
grande, tem um bom porte e é bonita. Mas o acabamento deixa a desejar, um pouco
por conta do uso de diversas texturas e cores – prata, azul, amarelo, preto… há
confusão. Ela transmite modernidade, mas acho que com um pouco de exagero,
soluções não convencionais e esteticamente estranhas. Um exemplo disso é a
proteção contra o calor do escape. O uso dos opcionais pioraram um pouco mais o
efeito visual, o mais estranho de todos eles é o acionamento das manoplas
aquecidas e o interruptor dos faróis auxiliares, parecem artigos de baixa
qualidade, ‘ching ling’. O protetor do farol realmente não ajuda a eficiência
do farol duplo. Não gostei também dos cabos do acelerador que invadem o campo
visual quando se olha o painel de instrumentos. Já o para-brisa tem regulagem
pouco prática.”.
Da observação estática Alberto passou à prática, e não foi
exatamente boa sua primeira impressão: “Comecei rodando na cidade e confesso
que achei o motor meio chôcho, parecendo mais um 900 do que um 1200cc !!!
Passando o modo de gestão da potência de “Sport” para “Touring” a coisa então
ficou pior, e apenas justifica-se usar esse modo, que deixa a resposta ao
acelerador mais branda, se o piloto estiver passeando tranquilamente ou piso
estiver muito escorregadio, porém para isso há o controle de tração. Rodando na
cidade as bolsas laterais, apesar de grandes, são altas e é fácil se acostumar
com seu volume, e no trânsito realmente não chegaram a me incomodar. Por conta das muitas irregularidades do piso
paulistano, ficou claro para mim que o conjunto de suspensão, macio e com
grande curso, está bem ajustado. Apesar da frente mergulhar em freadas bruscas
não há desequilíbrio nem incômodo. A suspensão traseira é gostosa e engole bem
as irregularidades da pavimentação, e mesmo quando propositalmente acelerei
forte em piso irregular a suspensão trabalhou bem e o controle de tração não
teve muito ‘trabalho’. Os freios trazem boa impressão e eficiência compatível,
só deixando a desejar – como veria depois – em velocidades muito altas. Me
chamou a atenção a boa geometria da dianteira, que não deixa o guidão pesado
mesmo em manobras lentas, além de oferecer boa estabilidade direcional. As mudanças
de trajetórias são sempre realizadas de maneira progressiva e suave. É um ponto
positivo este, pouco comum nas motos desta categoria que tenho testado
ultimamente. E esse bom comportamento da dianteira ganha importância quando se
verifica que o desgaste do pneu dianteiro, já acentuado, não favoreceria este
bom comportamento. Outro ponto positivo da Super Ténéré é o funcionamento do
conjunto cardã-diferencial-câmbio. Apesar do grande curso do pedal de marchas o
sistema é silencioso, e quem está acostumado com as BMW, mais ruidosas neste
item, ficará agradávelmente surprendido como eu fiquei! Os engates são precisos
e sem jogo, e na aceleração e desaceleração não há nenhuma folga que gere
ruídos ou trancos. Durante o uso na cidade aconteceram eventuais ‘estouros’ na
caixa do filtro de ar. Gasolina ruim? Pode ter sido isso uma vez que não havia
relato anterior sobre esse inconveniente.”
Da cidade Alberto foi para a boa rodovia dos Bandeirantes,
mais exatamente à Indaiatuba, um ‘bate e volta’ noturno de cerca 180 km: “A
subida de rotações do motor decepciona pois na metade do contagiro, lá pelos 4
mil rpm a impressão é que a rotação vai subir liso e rápido. Engano, pois após
a ‘animadinha’ a progressão cessa e é na estrada que se nota melhor esta
característica. No abre e fecha do acelerador em velocidade elevada, o ruído do
motor muda mas não há uma grande ‘pegada’. O torque característico do motor da
big trail está muito espalhado, sem nenhum pico de potência. Eu preferiria que
houvesse um pouco mais de emoção, ao menos na alta rotação. Em velocidades
próximas da máxima o ronco característico vindo da caixa do filtro de ar fica
bastante audível na zona sem turbulência logo atrás do para-brisa.”
Apesar de frustrado com o caráter “morno” do bicilindro da
Super Ténéré, o colaborador se surpreendeu positivamente com a Yamaha nesta
viagem: “Chama a atenção a boa ergonomia e a estabilidade. A moto se mantém
firme nas mudança de pisos, quando se
passam as marchas de modo rápido e mantém trajetórias com rigor. Creio que as
suspensões desta Yamaha trabalhem igual ou melhor do que a moto que é minha
referência, a BMW R 1200 GS Adventure ano 2008 que tenho na garagem. E como
todos comentaram, o farol principal, duplo, tem iluminação prejudicada pela
proteção de acrílico opcional. Salvam os faróis auxiliares que tem luz forte e
com foco bem definido. Rodando perto da faixa vermelha do contagiro a vibração
do motor não chega a incomodar, mas notei que basta encostar os pés nas
laterais do chassi para perceber que são as pedaleiras o ótimo ‘filtro’ das
vibrações, que também não alcançam o guidão. Já na transmissão surge uma leve
vibração no retrocesso do motor, bem sutil. De fato, neste uso rodoviário,
farol fraco e motor idem à parte, a única coisa incômoda foi a manopla esquerda
virando, uma bobagem mas chatinha. Mas reafirmo o grande ponto positivo desta
moto, que é a estabilidade que a faz praticamente andar sozinha. Fiquei
procurando uma condição na qual ela apresentaria alguma reação ruim, tipo na
turbulência ao ultrapassar um caminhão com velocidade alta e… nada, ela pouco
balançou. Quanto ao aspecto aerodinâmico, para mim faltou maior área de
proteção nas manoplas e a bolha, apesar de grande exige um posicionamento
preciso. Qualquer deslocamento lateral da cabeça joga turbulência no capacete.
Só me acertei ficando levemente encolhido atrás da bolha.”
Na chegada a SP, um susto: o combustível pareceu que iria
acabar: “Haviam me avisado que o mostrador do nível da gasolina cai de uma vez
quando passa da metade. De cerca de um quarto até chegar na reserva foi muito
rápido, pensei que ia ficar a pé na estrada! O tanque de 23 litros para uma
moto que bebe como ela – comigo fez sempre menos de 10 km/l – é um ponto onde
efetivamente a Yamaha perde da BMW. Outro ponto muito negativo foi a falta de
praticidade para utilizar os recursos do computador de bordo, que exige
deslocar a mão do guidão e achar o botão certo pois há dois, próximos e
idênticos. Um para o computador, outro para o hodômetro total e parciais. O
painel é bem legível mas as informacões importantes deveriam ter maior destaque
e senti falta de um indicador de marchas. Um aspecto excelente é o banco, muito
agradável. Enfim, ao compará-la com a BMW depois deste rápido mas intenso
convívio, considero que a XT 1200Z tem um excelente conjunto, mas pelos
acabamento inferior e características específicas, como a menor potência,
deveria custar menos.”
O relato de Alberto encerra a bateria de condutores que se
revezaram ao guidão da Super Ténéré. E como sempre, foi com este nosso exigente
colaborador de mão pesada que a Super Ténéré registrou o recorde negativo de
consumo: escandalosos 8,45 km/l para um trecho de cerca 100 km de estradas, de
Indaiatuba a SP. Convenhamos, o colaborador extraiu o sumo da Super Ténéré… Na
sexta, o resumão destes 31 dias de avaliação. Não perca!
Continua - (ultima parte será postado na sexta feira)
Fonte: Revista M.
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